Presente X Presença


Na correria do dia a adia nem sempre é fácil encontrar tempo para brincar com um filho, conversar com o conjugue, estar perto de quem se ama. O tempo vai passando, as faltas se cronificando e na tentativa de compensar a ausência, muitos pessoas presenteiam, não para comprar o outro (como é muito dito), mas para amenizar a falta. Contudo, é um método pouco eficaz. Pois nada substitui a presença de pais, marido, esposa ou amigos. O tempo é curto, mas pouco tempo vivenciado com qualidade, ou seja, estar com a pessoa com sua mente livre, deixando os problemas e outras necessidades de lado, é muito mais apropriado até do que um dia inteiro junto com a mente no trabalho. 

Luciana Gentilezza, psicanalista paulista, usou de uma idéia para explicar a diferença entre presença e presentes, segue abaixo:

"Imagine que você se perdeu no deserto do Saara, sol, fome, sede, medo, desespero foram os seus acompanhantes por horas e mais horas. Até que você é encontrado. Quando te resgatam a primeira coisa que recebe é um colar de pérolas. Não é o que você precisa, você precisa de água, comida, abraço, acolhimento, mas não pode reclamar, afinal é um colar de pérolas! Mas continua distante de sua necessidade verdadeira."

Na vida real, os presentes atingem a mesma finalidade, a maior parte das vezes o presenteado se cala, e até se envergonha de reclamar, afinal é um bom presente. Entretanto longe do que ele(a) realmente precisa, que é presença.

Amor próprio

Muitos pacientes e amigos também, me questionam o que significa amor próprio, auto-estima elevada, se aceitar. Acredito que Érico Veríssimo em Solo de clarineta, descreve muito bem esta idéia:

"O meu amigo mais íntimo é o sujeito que vejo todas as manhãs no espelho do quarto de banho. (...) Estabelecemos diálogos mudos, numa linguagem misteriosa feita de imagens, ecos de vozes, alheias ou nossas, antigas ou recentes, relâmpagos súbitos que iluminam faces e fatos remotos ou próximos, nos corredores do passado (...) enfim, uma conversa que, quando analisamos os sonhos da noite, parece processar-se fora do tempo e do espaço. (...) Sinto, no entanto um pálido e acanhado desconforto por saber que existe no mundo alguém que conhece tão bem os meus segredos e fraquezas, uns olhos assim tão familiarizados com minha nudez de corpo e espírito. Talvez seja por isso que com certa freqüência entramos em conflito. Mas a ridícula e bela verdade é que no fundo, bem feita as contas, nós nos queremos bem."

Isso é se amar! É conhecer-se bem, nas qualidades e defeitos e se gostar apesar delas. Quem se gosta assim, tem mais facilidade para amar aos outros também e aceitá-los como são.

O novo endereço do blog

A partir do dia 23 de maio sempre que acessar a este blog, será direcionado a uma nova página:
http://www.odiario.com/blogs/fernandarossi/ 


Este é o novo endereço do blog! 



Por que escolher é tão difícil? O dilema da escolha profissional e outras....


A vida é feita de escolhas, cada escolha traz em si conseqüências, as quais podem ser boas e /ou ruins. Escolher envolve abrir mão de um caminho diferente, é deixar para traz uma opção, que nunca se terá certeza se seria ou não a melhor. Assim, escolher significa saber lidar com limitações: não podemos tudo, não sabemos tudo. Tal vivência pode ser frustrante, por mais natural e necessária que ela seja. Assim, escolher também significa se despedir de algo, vivenciar um luto pela perda da outra opção, enfim, não é pouco, por isso é tão difícil.
A definição clássica da adolescência é ser um período de transição entre a infância e vida adulta, sendo assim uma fase de grandes mudanças e aprendizagens. Na adolescência há três áreas principais que são atingidas: a vida física, a vida social e a vida familiar. Todas elas são complementares e diferentes para cada um.
É um período em que temas como a sexualidade, a gravidez, a AIDS, e o decidir a profissão tomam a mente. Se conseguir energia para estudar nesta época já não é fácil, imagine para decidir o futuro profissional. Visto por este ângulo, se angustiar é até uma necessidade.
Na adolescência começa a se construir uma percepção do mundo diferente, mais crítica, mais racional, características importantes para se alcançar a maturidade, só que é um processo lento, marcado por discussões, enfrentamentos, idas e voltas, enfim, dificuldades. Eles passam a ter uma percepção de um mundo novo, só que esse mundo é ele mesmo, é o descobrir seus desejos, sua personalidade, sua história. É descobrir quem ele é, sua visão de si mesmo e do mundo a sua volta.
Não é uma tarefa fácil. Por isso mesmo há tantas brigas e contrariedades. Eles lutam para se diferenciar, mas muitas vezes se esquecem de encontrar a si, ficam espelhados/ identificados com os amigos, a mídia, o externo.
Há duas perguntas que os jovens procuram responder: “QUEM SOU EU?” e “QUEM SEREI EU?”, o que significará conhecer a si mesmo, se reavaliar, para enfim, se comprometer com sua identidade. Descobrir “quem sou eu?” é o que possibilita a definição da identidade, e das escolhas futuras, sendo esta a principal tarefa da adolescência. Para tanto, ele se experimenta o tempo todo, ou seja, vive sempre no limite. Aos adultos parece que não pensa antes de agir, ou não pesa as conseqüências, e é isso mesmo, mas não por mau e sim por não terem espaço mental ainda para isto. Porque a mente está em conflito, cheia de crises internas que se mostram principalmente na esfera familiar.
Porém, o que é bacana, belo desta época é a inquietude, a curiosidade, a criatividade, a espontaneidade que são tão comuns a eles. Quando estas características são percebidas o descobrir quem sou eu fica muito mais fácil. E para uma boa escolha profissional se conhecer bem é o primeiro passo.
Se conhecer significa entrar em contato com a própria realidade: enxergar suas qualidades, capacidades, desejos, preferências e também limitações. Aceitar que se é diferente dos outros, mas tendo em vista que todos são. Alguém é igual? Não! E isto é bom, é saudável, aliás, é o que faz a vida ter encanto. O que não significa ser excluído, estar à margem.
É também identificar e valorizar o seu estilo, que é o modo próprio de uma pessoa se posicionar na vida. Valorizar isto é valorizar o seu desejo, algo importantíssimo. Quando reconheço o que desejo as escolhas tornam-se mais naturais, mais fáceis.  O que implicará em olhar para si, deixar o outro de lado e se enxergar. No mundo atual as exigências e o que é dito como bom/ adequado é muito pesado, dando sempre a impressão de que o do outro é melhor, “que a grama do vizinho é mais verde”. Há uma supervalorização do externo e um deixar de lado a si mesmo. Quando se entra nisso nenhum tipo de escolha é boa, todas são fracas, porque acontecem em nome de algo que muitas vezes nem é real.
Além desta identificação pessoal, a família e o meio social também contribuem nas escolhas da vida.
Cada pessoa pertence a uma família que tem uma história e características muito únicas. Tais como valores, modos de entender o mundo, ações e reações diante das circunstâncias e outras tantas. Todas essas constituirão bases significativas na orientação dos filhos. Pois os desígnios da existência dependem não somente do conhecimento que o jovem tem de si mesmo, mas também do conhecimento dos projetos dos pais, da identificação e do sentimento de pertencimento com este grupo, do valor que essas pessoas dão às profissões, e, finalmente, de que forma este filho utiliza e elabora tais dados.
O meio social, são os amigos, a escola, o momento histórico em que se está inserido. Tudo isto influencia a visão de mundo que um jovem tem e as escolhas que ele fará na vida. Em cada época há uma moda diferente, um status e valor únicos para cada geração. E comumente as escolhas da juventude se baseiam nestes conceitos, mas serão estes os melhores? Os que condizem realmente com que se é?
Fatores como renda, perspectiva de emprego, status associado à carreira ou vocação fazem parte do processo de decisão individual. Contudo, um exemplo de escolha nem sempre acertada recai na profissão que não mudou de status mesmo com o passar do tempo que é a medicina, vista e comentada como a mais pomposa, de maior status e que mais se ganha dinheiro. Entretanto, várias pesquisas comprovam o quanto se estuda muito, trabalha mais ainda e ganha pouco na visão dos médicos já formados. Quantos adolescentes escolhem esta profissão sem saber de tal realidade. Uma coisa é vocação /desejo por uma profissão, outra é pressão seja da família ou da sociedade, falta de tempo ou chance para descobrir suas habilidades. Quando as escolhas são feitas por estes termos a chance de infelicidade é grande.
Diante dessas idéias como pensar em uma profissão? Bem, para os adolescentes eu diria: leve em conta quem você é, sua historia de vida, sua personalidade, seus desejos, sua família e o grupo em que está inserido. Lembre-se que a vida não se resume ao que você vai exercer. A escolha tem que ser por você, não pelo que está na moda, ou dá mais dinheiro, ou mais status. Pois a escolha significará acordar diariamente para fazer aquilo e durante muitas horas do dia, e se for algo e você não gosta?
Para os pais eu diria: ouçam. Escutem o que o seu filho tem a dizer, agüente a indecisão, lembre-se que não é fácil decidir. E olhe para você (e tantos outros adultos a sua volta) sua escolha foi fácil, foi assertiva na primeira ou você também deu voltas? Em geral todos o fazemos. Ao invés de pressionar, acolha, isto ajuda o filho a se decidir.
E para todas as idades diria que dá pra mudar, nenhuma escolha (ou não todas) precisam ser definitivas, vocação é algo a ser descoberto, não está preestabelecido, e às vezes precisa de um bom tempo até ser percebida.
Finalizo com uma música que acredito conter a idéia de se conhecer, é da Zelia Duncan, se chama "Bom pra você"...





REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BARTALOTTI, Otávio  and  MENEZES-FILHO, Naércio. A relação entre o desempenho da carreira no mercado de trabalho e a escolha profissional dos jovens. Econ. Apl. [online]. 2007, vol.11, n.4, pp. 487-505.
SANTOS, Larissa Medeiros Marinho dos. O papel da família e dos pares na escolha profissional. Psicol. estud. [online]. 2005, vol.10, n.1, pp. 57-66. ISSN 1413-7372.
WEINBERG, Cybelle (org). Geração delivery: adolescer no mundo atual. 2 ed. São Paulo:Sá, 2001.

Mudanças no blog

Logo, logo o blog mudará de endereço.... Passará a fazer parte do grupo de blogs do O Diário de Maringá....
Com isto, as postagens serão diárias, com pequenos textos durante a semana e um texto mais longo e aprofundado aos fins de semana... Aguardem, acredito que ficará beeem legal!!!!
Fernanda 

As várias facetas da adolescência e suas repercussões na vida escolar

A definição clássica da adolescência é ser um período de transição entre a infância e vida adulta, sendo assim uma fase de grandes mudanças e aprendizagens. Contudo classificar o que é adolescência para adolescentes não ajuda em nada. Por isso vamos refletir sobre as conseqüências praticas que este momento de vida implica.
Na adolescência há três áreas principais que são atingidas: a vida física, a vida social e a vida familiar. Todas elas são complementares, diferentes para cada individuo e, mesmo que em pouca medida, todas repercutem na vida escolar.
Começando pelo físico. Dos 12, para alguns um pouco antes e para outros um pouco mais tarde, até por volta dos 16 anos as mudanças que ocorrem no corpo tanto dos meninos quanto das meninas, são tantas e tão intensas que chegam a assustar: são pelos crescendo para todo lado, membros se desenvolvendo, altura (ou falta dela) chegando, e um corpo, normalmente, por um bom tempo meio desengonçado. É natural ficar desastrado, bater em tudo, derrubar as coisas, pois com tanta mudança corporal é como se o individuo não se sentisse dono de si mesmo e essa confusão mexe com todas as outras áreas da vida. Como se a vida como um todo ficasse “destrambelhada”.
Até mesmo porque junto com esse corpo em mutação, há uma descarga hormonal imensa que também surge de maneira descontrolada, ora em excesso ora em falta. Resultando no sentido psicológico em momentos de aparente apatia e tristeza e outros de intensa euforia e alegria. Os adolescentes são conhecidos pela família como o de lua, nunca se sabe como ele vai acordar. E com tantas mudanças assim, a mente fica cheia de pensamentos sobre o assunto: estou bem? bonito? ficarei assim? vai melhorar? como serei? estão gostanto do que estão vendo em mim? São algumas das perguntas que tanto se fazem. E como muitas dessas respostas só virão com o tempo, a palavra de ordem desta época é medo. E vamos lembrar que quando se está assustado fica muito difícil prestar atenção em algo, na escola então muito menos. Os pensamentos ficam todos em volta de resolver o problema. Contudo, este “problema” demora a ter solução, é ter que esperar, algo difícil para todos nós.
Agora pensemos na vida social. Na adolescência a vida social se intensifica e parece ser a única coisa que realmente importa. Ter amigos, ser parte de um grupo, ser aceito, querido é tão importante, ou pelo menos é o que parece, do que o próprio viver. Como se a vida perdesse o sentido sem tais pessoas. Por isso, muitos se dispõem a vivenciar situações que podem ter sérias conseqüências e muitas vezes nem percebem isto. Surgem as paqueras, os namoros e tantas repercussões podem vir destas relações que novamente os medos se afloram e os pensamentos se fixam nestes temas. Tanto por parecem mais interessantes, agradáveis, e desejáveis, quanto também por parecem extremamente necessários de resultados, assim novamente a escola sai perdendo.
Outro fato importante é que nesta época os relacionamentos sociais tornam-se mais atrativos do que com os familiares, o que também acaba por trazer conflitos com os pais. Além dos fatores morais: amigos dos filhos nem sempre são bem vistos pela família e vice-versa, os locais desejados para se freqüentar nem sempre são aprovados. São alguns dos temas que geram discussões entre pais e filhos.
Durante a infância os pais são vistos como heróis, cheios de capacidades, de possibilidades e por isso são muito admirados, os filhos pequenos percebem os defeitos mas convivem de forma mais tranqüila com os mesmos. Já na adolescência essa tolerância desaparece, esses “defeitos” são percebidos de maneira mais negativa e intensa. Por se sentirem mais fortes e capazes surge a sensação de direito de enfrentar, dizer o que não gosta, não quer e para os pais é muito duro este enfrentamento. É entendido como desrespeito e deseducação. Essas visões tão diversas tanto da situação como dos valores e desejos provocam sempre discussões às vezes muito acaloradas e difíceis de resolver.
Leon Tolstoi diz que “Todas as famílias felizes se parecem, mas cada família infeliz o é à sua maneira”. A partir desta frase podemos pensar que como não há família sem problemas, as tristezas fazem parte de todo núcleo familiar, cada um numa intensidade é claro, mas sempre há. Por isso não há receita de certo ou errado e sim que cada família é muito única e os personagens desta historia também. Pois dependendo do estilo de cada pai, dos valores de cada mãe, das histórias de vida de cada um, de como se construiu a afetividade entre cada membro e de como lidam com as dificuldades, a adolescência de um filho poderá ser mais ou menos complicada. Quanto mais situações difíceis dentro de casa, mais complexa é a situação e a escola, novamente, sai perdendo.
Contudo, a escola é uma instituição importantíssima na vida, é a partir dela que surge o preparo para a vida profissional. E num mundo tão concorrido como o de hoje isso é mais que uma necessidade, é impreterível. De que maneira então um adolescente pode conviver com as mudanças nas 3 esferas citadas e não se perder na escola? Bem, não acredito que haja uma única resposta e nem uma fórmula mágica. Os descompassos aparecem e são necessários até para aprender a viver. Porem uma reflexão que pode ajudar é tentar entender o que realmente está movendo a angustia. Muitas vezes a escola se torna desagradável ou desinteressante, mas a dificuldade não está realmente nela e sim nos outros setores comentados, identificar que problema verdadeiramente há e buscar ajuda pode facilitar muito a vida estudantil. Além do que as conseqüências de estar bem na escola são sempre muito melhores do que o contrário.



O que é o TDAH?

          TDAH é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Atualmente muitas crianças tem sido diagnosticadas como hiperativas e passam a tomar a ritalina que é a medicação adequada. O que não é tão conhecido é que muitos adultos também são hiperativos e nunca foram tratados, o que traz grandes conseqüências para a vida pessoal e profissional. O Dr. Paulo Mattos, neuropsiquiatra e doutor em psiquiatria, escritor dos livros: No mundo da lua e Princípios e práticas em TDAH. É uma grande referência de conhecimento nesta área. Indico abaixo uma entrevista dele com Marília Gabriela, onde  este médico explica o que é o trasntorno, como identificá-o e como tratá-lo.

















Se sua realidade muda, seus sonhos não precisam mudar

A realidade por vezes é cruel com os sonhos. Ao longo da vida muitos sonhos são modificados, deixados para traz ou esquecidos. Tal circunstância pode causar frustração e sofrimento. Claro que nem todos os sonhos são possíveis de realização, muitos não o são. Principalmente os infantis, baseados em fantasias e expectativas por vezes irreais. Esses precisam ser aprimorados ou até abandonados. E nem sempre sua falta de concretização causa dor.
Contudo, as aspirações mais fortes que nos acompanham por anos e tem um significado todo especial, estes, quando não concretizado pode trazer grande sofrimento. Em alguns casos até o desenvolvimento de uma depressão.
Frente a eles se faz necessário uma reflexão: o que houve? O que faltou? O que dificultou? Era passível de realização? Onde errei? Qual o contexto inserido? São algumas das perguntas importantes para a compreensão desta ocorrência. Tais respostas podem esclarecer, acalmar a alma e até ajudar a retomar esse alvo com uma nova postura.
Mas e quando a vida muda?
Ficar adulto muda tanta coisa! A realidade da maturidade transforma perspectivas, planos, desejos, enfim, muita coisa. Dificilmente a vida nos leva por caminhos que queremos. Muitas vezes diante dos novos contextos os sonhos são engolidos e engavetados. O que à longo prazo pode trazer uma frustração imensa.
Além do fato de que às vezes a realidade muda a despeito da nossa vontade, por exemplo, frente à perda de um amado seja por luto ou separação, uma dispensa de um emprego desejado, uma tragédia da natureza, um acidente com conseqüências desastrosas, enfim, tantas situações podem nos tirar do rumo, do caminho planejado. Diante dessa nova realidade, tanto a vida quanto as aspirações precisam ser refeitas, o que não é nada fácil. Envolvem viver um luto pela situação antiga, restabelecer emoções e só então estar pronto para pensar no futuro.
Re-encontrar o que te proporciona prazer, o que faz o coração pulsar e o que é desejável para a vida pode ser um caminho para se re-compor e colocar a vida novamente nos trilhos.
Comparo a vida a uma construção, pense em uma. Toda construção é trabalhosa, onerosa e demorada. E cheia de contratempos. Uma reforma pode ser tão ou mais desgastante do que construir algo novo. Refazer sonhos é como reformar. Desgastante, mas necessário, por vezes indispensável. E nunca é tarde para recomeçar, pois os sonhos podem ser atemporais. Se realizados causam grande prazer, até mais quando foram complicados de ser alcançados.
Deixo como indicação desta reflexão um vídeo muito interessante, sobre a vida de Marc Herremans. Um triatleta que fraturou a coluna durante um treino e que teve que repensar toda a vida. A realidade deste atleta mudou, sua condição de vida até física se tornou outra. No entanto, ele refletiu, encontrou dentro de si o que o movia e refez sua história. Com novas circunstâncias, até mais difíceis, é verdade. Mas com muita vontade e garra, o que lhe proporcionou vitórias, lindas vitórias. E uma convicção de que: "se sua realidade muda, seus sonhos não precisam mudar". Ou seja, sonhos podem ser adaptados, não necessariamente abandonados. Esta pode ser a beleza de crescer. 




Pais iguais, filhos diferentes

Uma das dúvidas mais freqüentes dos pais é por que meus filhos são tão diferentes se os criamos iguais? Bem, algumas reflexões se fazem necessárias frente a esta questão. Primeiro, será que os pais são os mesmos sempre? E segundo, é possível ter filhos iguais?

Com relação ao primeiro ponto vamos analisar: a vida é feita de experiências, a cada nova circunstância aprendizados são tirados e impactos sobre o comportamento, os valores e o jeito de ser podem surgir no cotidiano de cada pessoa. Assim, com o passar dos anos as pessoas mudam, mesmo que de forma leve e suave. A partir desta idéia podemos entender que os pais não são os mesmos para seus filhos, porque entre o nascimento de um e outro, muitas coisas aconteceram e os modificaram. E isto só no aspecto individual, que dirá das outras esferas. Pois os filhos nascem em momentos de vida também diferentes. A vida social, econômica, espiritual e do próprio casal também difere ao longo dos anos. E todas essas circunstâncias influenciam em como os pais criarão seus rebentos. Não há comparação entre a postura de uma mãe com o primeiro filho para com o caçula. Sua calma, paciência, disponibilidade e ansiedades serão outras em cada momento.
O desenvolvimento de cada indivíduo depende de três fatores, sendo eles os inatos - características de temperamento com as quais nascemos (mais agitados, mais calmos, por exemplo). Mais as características do mundo externo - ambiente, situação sócio-econômica e cultural. Aliados a própria família - valores, ideais, características de personalidade dos pais, forma de se relacionar com o mundo a sua volta, qualidade e estilo de vida do casal, número de filhos e etc. Todos esses fatores se somam e pesam sobre a construção da personalidade de um indivíduo.
Desta forma, um filho nunca será criado de forma igual a outro. No máximo com critérios semelhantes, mas ainda assim haverá diferenças. Um novo filho, novos pais. Com uma mente e momento de vida diferenciada. 
Mesmo para filhos gêmeos. Neste caso a diferença reside na afinidade. Cada filho atrai os pais de forma muito única. Com um há maior afinidade, com outro menos. E isso não significa mais ou menos amor. Tem haver com identificação. Há filhos mais parecidos com o pai, o que por vezes pode aproximá-los ou até repeli-los. E isto pode ocorrer tanto da parte do progenitor, quanto da própria criança. Há uma identificação maior ou menor com cada um. Pense na sua família de origem, em quem você era mais ligado, na sua mãe ou no seu pai? Significava que você amava mais a um e menos ao outro, ou apenas que as afinidades eram diferentes? Isso acontece em toda família, alias até na roda de amigos, gostamos de vários, mas com um se tem uma intimidade e facilidade de conversar maior.
E com situações assim permeando o desenvolvimento não tem como os filhos serem criados iguais.
Em segundo lugar, os filhos são díspares porque são pessoas diferentes. Com temperamento, personalidade, gostos, prazeres e forma de entender o mundo, únicas e particulares. Assim, até uma mesma situação é vivenciada por cada pessoa com impactos distintos. Ou seja, numa mesma família as regras, limites, permissões e amor podem ser iguais, entretanto a forma de compreende-las não será a mesma para todos os filhos. Um aceitará bem, outro não, um pode compreender a situação de forma próxima aos pais, outro não e assim por diante.
Muitas vezes os pais comparam os filhos, destacando tais diferenças. O que traz conseqüências desagradáveis. Ao comparar, se diz que um está certo e o outro errado, os pais tomam partido de um filho e deixam o outro com sentimento de negativa, o que cria mágoa, competição e rivalidades que poderiam não aparecer, ou ao menos em menor intensidade. Pois cada filho, aliás, cada ser humano, é único e não tem como ser / agir como outro. 
Alem do mais, ser diferente é ruim? O que será difícil em aceitar cada um como é? Sem estipular que há um único modelo, um jeito certo de ser. Algo que beira a utopia. Claro que pessoas distintas causam na família como um todo impactos e influencias que nem sempre são fáceis de lidar. Um filho que pensa diferente, age de forma diversa, exige dos pais um comportamento também novo, o que é bastante trabalhoso. Todavia, quando estas diferenças são aceitas, acolhidas e valorizadas, essas crianças podem ser ajudadas a desenvolver o melhor que há em si, deixando em segundo plano os defeitos. Mas quem não os tem? Defeitos precisam afastar ou podem ser aprendidos a tolerar, a amar apesar deles? Um aprendizado que poderão levar para toda a vida e usar em outros relacionamentos, elevando seu amor próprio.

Uma reflexão sobre a verdadeira beleza

     Refletir sobre a beleza é um campo bastante amplo, pois há beleza em tudo: na natureza, nos animais, nos homens, na arquitetura, na ciência, na literatura e assim por diante. Esta reflexão se centrará na beleza humana. O que também não é tarefa fácil, tendo em vista, que se precisa levar em conta que a beleza depende de aspectos sociais, históricos, culturais e individuais. E está relacionado tanto a questões físicas quanto psicológicas. Mas então o que faz uma pessoa ser bela? Pode ir alem do físico, ou acaba nele?
No aspecto social a beleza está ligada a um padrão aceitável a uma época, houve o belo como do obeso tão bem retratado nas pinturas de Botticelli, ou do corpo musculoso como das esculturas de Da Vinci, até chegar na magreza da moda tão bem representada por Kate Moss. Assim o conceito de beleza foi e irá se modificando ao longo da história. Havendo em cada época um modelo fortemente definido.
O que faz parte do aspecto histórico, que é fortemente determinado pelas questões econômicas. Aonde, contraditoriamente, a oferta de alimento vai à contra mão das formas corporais valorizadas. Quer dizer, em épocas nas quais há pouca oferta de alimentos, a imagem feminina acima do peso é que indica poder, enquanto que nos períodos de abundancia de comida, como atualmente, o ser magro é o representante tanto de autodisciplina quanto sucesso (Liveira e Hutz, 2010).
Alem do fato da beleza como diferença da maioria. Quando o imperativo de uma época era o trabalho braçal que gasta muita energia, ser obeso e de pele alva era o representante maior da superioridade e realeza. Com o advento da percepção de que a obesidade é perigosa para a saúde, ser magro se tornou o alvo da riqueza. Pois no século XX, com as pesquisas científicas a obesidade foi percebida como doença, classificada até mesmo pela Organização Mundial da Saúde. E estar magro significa pagar um preço por isso, que vão desde os cuidados com alimentação, passando pelos exercícios físicos até as cirurgias plásticas (Freitas, Lima, Costa e Lucena Filho, 2010). Algo nem um pouco barato.
Há também a beleza cultural, no Japão por exemplo a pele bem clara é considerada a mais bonita, enquanto que aqui no Brasil é a pele bronzeada considerado o desejado. No Oriente, a Índia como representante maior, a maquiagem forte e bem marcada é o ápice do belo. Enquanto que na Europa a maquiagem discreta é considerada o ideal. Desta forma, dependendo de cada região a beleza e a forma de destacá-la também serão diferentes.
Quanto mais então no aspecto individual. Entra-se na idéia de que a “beleza depende dos olhos de quem vê”. O que é muito único para cada um. Há de se levar em conta que de acordo com a biologia evolutiva a beleza é resultado da união de simetria, harmonia e unidade, assim o belo é entendido por todos como sendo belo (Macedo e Sandoval, 2011). Como por exemplo, a imagem da rainha egípcia Nefertiti é, mesmo depois de 3000 anos, considerada ainda lindíssima. Então, o belo pode ser definido como igualmente admirado por todos. Contudo, uma pessoa pode se interessar e achar belíssima uma mulher que outra pessoa não acharia. Ou seja, há o belo considerado socialmente como real, e o belo que se destaca individualmente para cada um.
O que indica que a beleza vai alem do constructo social. Há nele questões psicológicas do que cada pessoa desperta em nós, que podem ser os traços do rosto, o tipo de corpo, o olhar, o jeito de caminhar, o estilo, enfim, detalhes que fazem toda a diferença.
Por este aspecto a beleza deixa de ser apenas física para tornar-se parte da existência de cada um. Algo que se têm muito mais possibilidades de esculpir. Pois leva em conta outros atributos tais como a historia de vida de cada um, a educação, a cultura, a autoestima, o jeito de ver a vida, o estilo, os cuidados consigo mesmo, enfim, uma variedade tão grande que torna cada um tão único e belo ao seu modo.
Num mundo tão voltado para o externo, pensar em beleza dentro desta visão pode parecer um contra-senso, mas quem sabe seja o único modo possível de encontrar satisfação. Pois o padrão de beleza vigente tem cobrado um alto preço principalmente das mulheres. Transtornos alimentares como bulimia e anorexia acontecendo cada vez mais cedo. Crianças mais preocupadas com o corpo do que o brincar (Oliveira e Hutz, 2010). O envelhecimento visto como negativo, inadequado, indesejado e que deve a todo custo ser evitado (Moreira e Nogueira, 2008). Como se isso fosse possível!
O tempo é implacável, ele chega e não pede licença! Por mais belo que o corpo seja, se a mente não for saudável não é suficiente para manter a chama de um relacionamento amoroso vivo, laços familiares reais e amizades duradouras.
Os aspectos psicológicos são os únicos que nos acompanham durante toda a vida e ao contrário do físico este pode ficar mais belo com o passar do tempo.
Como influenciá-lo então?
Primeiramente olhando para sua autoestima. Autoestima é o juízo de valor que um indivíduo tem de si mesmo. Sua construção se inicia na mais tenra idade e influencia por toda a vida o relacionamento consigo mesmo e com as pessoas ao seu redor. Diante de desafios é este atributo emocional que possibilita confiança, força e determinação ou o contrário de tudo isto.
Uma avaliação rápida da autoestima pode ser feito com o tentar descrever 10 características suas positivas e dez negativas. Normalmente se esbarra em não saber o que escrever, principalmente nas positivas. É tão fácil e rápido se julgar, enxergar os defeitos. Ate mesmo quando se recebe um elogio, poucas pessoas agradecem, a maior parte junto com o agradecimento vem uma justificativa. Por exemplo, ao elogio de “que linda sua blusa” vem a resposta “paguei tão barato” ou “é tão velha” e assim por diante.
O fortalecimento deste atributo está relacionado ao autoconhecimento. A saber, quem você é, do que é capaz, quais suas limitações e poder gostar de si neste completo. É ser tolerante consigo mesmo, se aceitar como é. Não significa fechar os olhos para os defeitos, mas se perdoar quando cometê-los. É sair da roda-viva de exigências e cobranças que o mundo faz – cuide da casa, dos filhos, do conjugue, da carreira, dos amigos, do corpo e esteja feliz o tempo todo – para entrar na realidade de que não é possível fazer tudo isto. Há que escolher o que é prioritário e nisto focar, deixar o restante para segundo plano e fazer no seu ritmo, no seu tempo. Ao colocar os compromissos nesta dimensão fica possível encontrar o prazer de viver. Pois os comportamentos deixam de ser mecânicos e necessários, para se tornarem escolhas.
Deixo como indicação dois vídeos, que apesar de serem propagandas de cosméticos, ajudam nesta reflexão:


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Bibliografia:
FREITAS, Clara Maria Silveira Monteiro de; LIMA, Ricardo Bezerra Torres; COSTA, António Silva e  LUCENA FILHO, Ademar. O padrão de beleza corporal sobre o corpo feminino mediante o IMC. Rev. bras. educ. fís. esporte (Impr.) [online]. 2010, vol.24, n.3, pp. 389-404. ISSN 1807-5509.
LIVEIRA, Leticia Langlois  e  HUTZ, Claúdio Simon. Transtornos alimentares: o papel dos aspectos culturais no mundo contemporâneo. Psicol. estud. [online]. 2010, vol.15, n.3, pp. 575-582. ISSN 1413-7372.
MOREIRA, Virgínia  e  NOGUEIRA, Fernanda Nícia Nunes. Do indesejável ao inevitável: a experiência vivida do estigma de envelhecer na contemporaneidade. Psicol. USP [online]. 2008, vol.19, n.1, pp. 59-79. ISSN 0103-6564.
MACEDO, Daniela e Sandoval, Gabriella. O QI da beleza. Revista veja. 12 de janeiro, 2011. Pg 79-85. 

A dor da espera

Esperar não é fácil. Acredito que todos concordem com isto. Seja esperar um taxi, um amigo, um avião, o semáforo abrir, uma mesa num barzinho, um resultado, um namorado(a)... Enfim, seja qual for a situação, se envolve esperar, ativa sentimentos nem sempre dos mais nobres ou agradáveis. Isto porque esperar significa adiar um desejo, e o desejo é atemporal, não conhece e não respeita tempo, regras ou limites. Ter desejo é estar vivo, é saudável, é motivador, é prazeroso. Mas, esperar acontecer é muito doloroso!

Há desejos de todos os modelos e tamanhos, para todo tipo de bolso e gosto, sendo assim, há os que sabemos ser malucos e inalcançáveis que mais do que desejo tornam-se um sonho distante. Enquanto que outros são importantes e até mesmo imprescindíveis. Estes últimos são os mais complicados e detonadores de angustia, tristeza e dor. 
Esperar a ligação de uma entrevista de emprego, o resultado do vestibular, uma pessoa que amamos chegar de um lugar ou situação de perigo, o resultado de um exame médico, de uma cirurgia, uma gravidez que nunca vem, ou um salvamento. São situações de grande desespero. Insegurança, medo, dúvidas, culpa, surgem descontroladamente mesmo com esforço para não aparecer. Nesta hora as orações, a família e os amigos, ajudam, mas muitas vezes não são suficientes para aplacar tais sentimentos.
Sentimentos estes que são naturais para a circunstância, porem muitas vezes mal compreendidos por nós mesmos e pelos que estão a nossa volta, que nos pedem calma, indicam caminhos e não entendem (ou não entendemos) que a dor tomou conta e que palavras de consolo ou indicações de erros não ajudam em nada. 
O mais complicado é que cada situação é vivenciada de maneira muito única por cada um, há pessoas que esperam com tranqüilidade mesmo por algo de grande seriedade. Outros, por situações aparentemente simples ficam descontrolados. Não há aqui o certo ou errado, mas a capacidade de tolerar frustração de cada um. Assim como há pessoas que toleram melhor a dor, há pessoas que toleram melhor a espera e conseqüentemente a frustração. Para outros este desconforto pode ser desesperador. 
Até mesmo porque, lidar com frustração é entrar em contato com o quanto em muitas situações somos incapazes e até mesmo impotentes diante das pessoas, da vida e até do nosso próprio corpo. É algo muito, muito angustiante. Quem lida bem com frustrações, que vamos concordar  são pouquíssimas pessoas, tendem a saber esperar sem se desorganizar. Para todos os outros, a desordem se torna a palavra de ordem.
E frustração e espera, estão intimamente ligados, pois enquanto esperamos nos deparamos com o a frustração do não saber, do fato de não termos as respostas, o que nos faz ver o quanto somos limitados, outra verdade que se luta sempre contra. 
Desabafar sem se sentir cobrado pode ser, na maior parte das vezes, a única coisa que realmente alivia. Saber que há alguém seja humano ou espiritual que nos escuta, nos acolhe e nos ama sem nos cobrar faça isso ou aquilo, sem dizer que estamos errando nisto ou naquilo. Pois na hora da dor, essas críticas nem são escutadas, só revoltam, magoam e criam confusão. Se sentir acolhido é o caminho, pois de dor já basta a angustia interna ativada pela espera.
Além do mais, há esperas que só quem vive sabe o que significa aquela dor. Por isso, as frases de efeito como "isso passa", "não fica pensando no assunto" ou "vai dar tudo certo" podem ser tão irritantes, pois não consolam em nada. Mas ter um ombro amigo que agüente o choro e demonstre que não nos abandonará, isso sim acalma e alivia. 
Levando em conta que nem sempre passa, nem sempre dá tudo certo e quando se está no olho do furacão não dá pra simplesmente pensar em outra coisa. 

A temível volta as aulas...


         As férias são um tempo de grande alegria para a criança. Representa ficar mais em casa, mais próximo das pessoas que ama, num ambiente que lhe é afetivo e conhecido. Os pais também acabam por se dedicar mais a elas e muitas vezes conciliam suas próprias férias com a da criança. Tornando este tempo ainda mais interessante e agradável.
Contudo, vem o temido dia da volta as aulas. E quase todas as crianças, quanto menores mais comum, dão trabalho aos pais e professores nos primeiros dias. É quase como reviver a entrada na escola: é reclamação, choro, birra, escândalo e até o não conseguir ficar no colégio. Por que isso acontece?
Bem, primeiramente porque é viver uma separação. É ter que se afastar de todo um período agradável e rico afetivamente, para entrar num espaço onde há regras mais firmes, alguns desconhecidos e, principalmente, onde terá que dividir a atenção com muitas outras pessoas. Tudo isso não é fácil para a criança.
Na verdade, nem para o adulto. O retorno das férias muitas vezes é vivenciado com angustia e até mesmo pesar, mesmo para os pais.
Entretanto, precisamos voltar. E é de pequeno que se aprende a tolerar sentimentos como desapontamento, contrariedade e frustração. 
Aos pais, cabe entender que este comportamento não irá permanecer caso eles também agüentem. Se os pais cedem a pressão do filho, este se sentirá seguro em permanecer com o mesmo comportamento.
Não é fácil ver um filho chorando e/ou triste. Mas é preciso lembrar que essas frustrações servem para o desenvolvimento emocional da criança. Há tempo de diversão, há tempo de trabalho. Para haver este aprendizado, um quanto de frustração precisará ser enfrentada. E a criança aprenderá a suportar a mesma na proporção em que os pais o fizerem. Ou seja, pais que agüentam o choro, sem se perder nos pedidos do filho. Mostram a eles que entendem sua dor, que também sentirão sua falta, mas que há situações que não se tem escolha, precisam enfrentar. 
Aprendizado que servirá para toda a vida, pois a mesma é feita de frustrações o tempo todo. E conforme crescemos a maior parte dos compromissos não se tem como negociar, ao contrário, temos que vivenciar.
Normalmente após a segunda ou terceira semana de aula a criança se re-adapta e passa a tolerar a saudade, a distância e a dinâmica da escola com mais facilidade. E até a perceber oportunidades agradáveis neste local, como os amigos, as brincadeiras e o próprio aprendizado.
Se após este tempo o comportamento da criança permanece, há indicação de que uma ajuda será necessária. Porém, em geral acalma. 


Quando os pais se separam

        A separação é um momento de muita dor para toda a família. Tanto o casal quanto os filhos precisam rever seus posicionamentos, sonhos e planos frente a nova situação. O que não é fácil para ninguém. Segundo pesquisas, a separação é  segundo maior fator de stress e sofrimento na vida. O primeiro é o luto. Na minha opinião, a separação tambem é um luto, pois representa a perda de uma condição familiar, de um(a) companheiro(a), onde tudo precisará ser re-organizado e re-planejado. Diante de tantas angustias os pais sentem-se perdidos e confunsos frente aos filhos, sem saber como se posicionar ou como ajudá-los. Surgem muitos sentimentos de culpa, o que acaba propiciando um ambiente onde tudo que os filhos pedem acaba por ser permitido na tentativa de diminuir a dor e a culpa.
       Bem, vamos refletir sobre isto. Em primeiro lugar, o sofrimento é inerente a esta situação, os pais estão deprimidos, tristes e naturalmente mais angustiados. Isso é natural e um direito. Os filhos também estão sofrendo, o que é natural. Encher os filhos de presentes ou de tudo pode, não ameniza a situação, nem ajuda em nada. Ao contrário, a longo prazo aparecerá um outro problema: que é a falta de limites. Sendo assim, os valores, conceitos e limites precisam permanecer na família independente da condição conjugal.
        Em segundo lugar, sofrer faz parte da vida. O que é necessário é aprender a enfrentar a situação de forma unida, verdadeira e com paciência. Situações de perda e dor acontecem diariamente com todos nós, algumas vezes com maior intensidade outras com menos, mas sempre acontece! Por isso, assumir que está doendo, que tem dias que se está mais deprimido que o normal é importante, isso é ser verdadeiro consigo próprio. E lembrar que os filhos passarão pela mesma realidade, terão dias mais fáceis e outros mais difíceis. O caminho neste sentido, é assumir o sentimento e expor a verdade, dizer "hoje não estou bem, me deixe mais quieto". A criança precisará escutar que a culpa não é dela, que não foi ela quem causou este sofrimento. E os pais precisam se lembrar que os filhos se entristecerem também não significa que são culpados, mas sim que os rebentos estão tentando elaborar esta nova situação e tem dias que a dor apertará mais. Então diga a eles que está disposto a conversar, ouvir sua dor e respeite caso façam criticas ou silêncio. 
        Em terceiro lugar, os pais precisam se lembrar que a separação acontece entre o casal NUNCA entre pais e filhos. Deixo de ser esposa, mas não deixo de ser mãe. Deixo de ser marido, mas não deixo de ser pai. Mãe e pai não se tornam amigos dos filhos após a separação, eles precisam continuar a ser pais: que estão presentes apoiando, cuidando, dando limites, regras e broncas. Isso não pode mudar, são esses comportamentos que confirmam para os filhos que os pais continuam vivos em sua vida.
       Normalmente quem sai de casa, o tradicional é ser o pai, tende a se afastar dos filhos. Não por falta de amor ou carinho, mas muitas vezes por não saber como se colocar frente a esta nova situação. Uma idéia é se lembrar de que os filhos sentem sua falta e muita. E que independente de quem tenha errado (se é que há um só culpado) os filhos são capazes de perdoar a separação. O que ofende é a ausência!
        E por ultimo, lembrar que a imagem dos pais não pode ser denegrida na mente dos filhos. Uma separação nunca se dá pelo casal ter ótima relação. Ao contrário, é sempre porque brigas e diferenças se sobrepõem as coisas boas. Então falar mal do conjugue surge quase que naturalmente. Entretanto, os filhos não devem ser expostos a isso. Não estou dizendo que os filhos não devem saber as verdades sobre os pais, mas que devem eles mesmo descobrirem isto, pela vivencia com cada um. Se a mãe critica o pai ou manda recado, expõe o filho a situações de tristeza e confusão. O mesmo vale para o pai e para os avós e parentes em geral. O filho precisa ser protegido das mágoas dos adultos. Quem se ofendeu foi o casal, os filhos são outro departamento. Mesmo em caso de traição. Quando um filho escuta criticas sobre seus pais, ficam confusos e sem saber como respeitar e até como amar a este outro. Ou seja, não ajuda em nada. Conforme crescerem e ficarem adultos perceberam as falhas de cada um, mas por si mesmo e não pela influencia de outro. 
        A separação é sempre dolorosa, contudo o posicionamento do casal frente aos filhos é que vai determinar se a situação se tornará traumatizante ou não. 

Reaprender a viver após uma perda.

       Falar em luto nunca é fácil. É um momento de dor, angustia e tristeza intenso. Onde a depressão fica a palavra de ordem. Tal como na adolescência se espera comportamentos e condições psiquicas que em qualquer outro momento da vida seriam considerados anormais e passivos de tratamento, no luto a condição depressiva é entendida como natural e até mesmo nescessária para elaboração da situação. Pois é muito, muito, muito duro re-aprender a viver sem aquela pessoa tão querida, e quanto mais próxima a pessoa era maior é a dor.
        Desta forma situações como momentos de desespero, desesperança, sensações de que tudo perdeu o sentido, choro, falta de cuidados consigo próprio e com os que ficaram e tantos outros atos são naturais nesta circunstância. Lembrando que cada indivíduo é único e reage diferente frente a dor, alguns se sentem sem forças para levantar da cama, enquanto outros querem viver cada dia com mais intensidade. É assim, cada um é um e vive o momento segundo sua história de vida lhe ensinou, por isso não se pode julgar que um sofre mais ou menos que outro, cada um sofre a sua maneira. 
        Por isso mesmo, algumas pessoas precisam de ajuda nesta hora, quando esta depressão passa a impossibilitar e prejudicar a vida, pode ser necessária uma avaliação psicológica e por vezes também psiquiátrica. 
        A família está num nível de sofrimento tão pesado que não aguenta (e nem se deve cobrar isso de ninguém) escutar um ao outro, cada um está fechado em si. E assim precisa ser, não há como ofertar consolo a alguém quando se está inconsolável. Contudo, conversar, desabafar, chorar e ser acolhido sem julgamentos nem represálias, ajuda muito nesta hora. Por isso um psicólogo pode ser de grande auxílio.
       Não há nada tão doloroso quanto perder alguém que amamos, é encarar a finitude e fragilidade da vida, como pode ser tranquilo? Para quem fica se faz necessário refazer os planos, os sonhos, a vida. Dói muito, porem é possível re-aprender.
        Aos poucos as lembranças tornam-se não mais fonte de tristeza e falta, mas sim de alegria, ficam belas e até mesmo uma fonte de conforto. No início parece impossível de acreditar nesta ideia, contudo, confie, vai acontecer!