A dor da solidão

A palavra solidão tem por si só uma conotação negativa, lembra algo triste ou ruim. E o dicionário acaba por comprovar tal ideia, pois a explica, entre outras coisas, como isolamento. Contudo, estar só, pode até não significar algo triste, muitos gostam, até preferem. Aliás, alguns ditados defendem este estado: "melhor só do que mal acompanhado”. Mas estar só, isolado, lembra tristeza, pois indica ser deixado de lado, ignorado, esquecido. E ninguém sente-se bem diante deste tipo de situação.
Na Psicologia alguns autores procuraram compreender melhor este termo. Um deles foi Melanie Klein, que se referia a solidão não como um estar fisicamente sozinho, mas sim como um sentir-se sozinho mesmo acompanhado de amigos e familiares que nos dão amor. É deste sentir que me refiro, um sentir que machuca, incomoda. Um sentir que ficamos procurando preencher e parece que nunca conseguimos.
Na tentativa de acabar com este sentimento as pessoas agem das mais variadas formas. Alguns se fecham ainda mais e acabam por se isolar dos que amam, podendo chegar a desenvolver um quadro grave de depressão. Outros passam a acreditar que o problema esta no relacionamento atual ou então na falta de algum relacionamento amoroso, partindo desta ideia começam a buscar novos vínculos. Podemos pensar que surge daqui o namorar por namorar, pois apesar do ditado popular ctado anteriormente, é muito comum escutarmos “é melhor ficar com ele (a) do que sozinho”. Entretanto, após um tempo esta mesma pessoa afirma que o sentimento não mudou e por vezes até se aprofundou.
Isso acontece porque a solidão é um sentimento intimo e pessoal, que ninguém pode suprir. Segundo Donald Winnicott (outro autor a estudar este tema), estar só é uma capacidade, a qual só é alcançada através de um amadurecimento emocional. E ter maturidade emocional não é simples, pois envolve nos conhecermos e aceitarmos como somos. E poucas coisas são tão difíceis quanto isto.
Assim, nenhuma presença externa poderá suprir realmente esta carência, claro que auxilia, mas não resolve. Este trabalho depende somente de nós, depende da nossa capacidade de aceitação, de abandonar nossas fantasias de acertos e de super-exigências e aceitar as limitações e defeitos que são inerentes a todos nós. O que não significa se acomodar aos erros, mas sim nos amar como somos, apesar deles. Quando se alcança essa maturidade estar com o outro se torna companheirismo e não mais salvação. E o estar só pode realmente ser prazeroso.